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Profissionais da política

José Magalhães foi um entre os 30 deputados do PS e do PSD que pediram ao Tribunal Constitucional para travar a norma que acabava com as subvenções vitalícias dos deputados com rendimento de outras fontes, superior a 2 mil euros por mês. As subvenções foram criadas, em 1985 e abrangem todos os deputados até 2005, quando acabaram. 

A passada semana, Magalhães publicou Políticos.pt, um livro moralista sobre remunerações de eleitos como se não fosse nada com ele, como se não tivesse beneficiado durante 30 anos de parlamento de tudo aquilo que agora alega agora denunciar. Denunciar depois de beneficiarmos é fácil, mas não é credível.

Nesta obra José Magalhães associa automaticamente o estatuto de político profissional aos eleitos. Durante a ditadura, havia efetivamente políticos profissionais, vitalícios, com benesses vitalícias. Ora, numa democracia, os eleitos são professores, estudantes, advogados, médicos, etc., que são eleitos por quatros anos, período após o qual muitos deles voltam à sua vida anterior. 

Mas, Magalhães fala por ele, como se todos fossem deputados durante 30 anos. Designa-os em bloco como políticos (leia-se profissionais). Na realidade, ele próprio conseguiu construir uma carreira como se fosse efetivamente um político profissional aproveitando os buracos da legislação para se eternizar 30 anos na Assembleia. É todo um léxico que se denuncia a si próprio.

Publicado no Diário As Beiras - 16 de março de 2017