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Porque se abatem as árvores saudáveis?

Aos poucos as árvores de grande porte vão desaparecendo das principais artérias da cidade de Coimbra. Os sucessivos executivos camarários parecem conviver bem com esta realidade como prova o recente corte dos eucaliptos monumentais junto ao Centro Operário Católico na Conchada. A ordem de abate dada pela CMC não se limitou às árvores doentes ou de potencial risco para transeuntes ou casas. A Câmara, de uma assentada, mandou abater todos os eucaliptos, doentes e saudáveis, de médio e grande porte, alguns centenários, outros jovens. O que motiva a Câmara e, já agora, o executivo da Junta de Freguesia da UF a agir desta forma?

O estado em que se encontra o parque arbóreo da cidade leva-nos a crer quer não se tratou de um excesso momentâneo de zelo na aplicação de uma medida fitossanitária ou de uma excessiva preocupação com a segurança de moradores. Olhar hoje para as árvores nas áreas centrais de Coimbra é constatar que a CMC planeia uma cidade sem árvores, ou na melhor das hipóteses, com pequenas árvores ornamentais, que não incomodem. Parece existir em Coimbra uma espécie de dendrofobia: o medo de árvores é de tal forma irracional e mórbido que mais rapidamente se procede a um corte radical de árvores que à plantação de novas.

As ruas de Coimbra apresentam hoje dezenas de caldeiras sem árvores ou com resquícios de árvores cortadas em que a calçada e o alcatrão tapam os vestígios de onde em tempos existiram árvores. Enquanto em Nova Iorque e Sydney se calcula a mais valia das árvores em meio urbano, a partir dos benefícios invisíveis que prestam, da limpeza do ar, à retenção e filtragem das águas pluviais, à poupança de energia ou às mais-valias imobiliárias, para a maioria dos nossos autarcas, das juntas aos executivos camarários, as árvores não são mais que uma fonte de problemas e despesa. Nas cidades supracitadas investe-se. Em Coimbra apenas se desinveste, como prova o exemplo da Conchada.

Os eucaliptos da Conchada, à semelhança das árvores da cidade, necessitavam de serem cuidados e desramados. Se algum estivesse doente ou realmente fosse perigo público, então sim, proceder-se-ia a um abate pontual. A opção foi cortá-los todos, sem dar conhecimento aos moradores de tal intenção, nem publicar os estudos que fundamentam tecnicamente tal decisão grotesca. A cidade perdeu mais um dos seus pulmões verdes e a Conchada uma parte da sua identidade. Há moradores de 80 anos que sempre conheceram estes eucaliptos junto do Centro Operário Católico. Já não estarão cá para ver árvores adultas no seu lugar.

O Senhor Presidente da CMC deve uma explicação à cidade: por que motivo se abatem árvores saudáveis? E já agora senhor presidente da CMC por que motivo não divulga o relatório que fundamentou esta decisão?

P.S. Por favor não nos falem de replantações! A Alameda do Cemitério já espera há cinco anos pela reposição das vinte e três árvores cortadas em 2013.

Publicado no "Diário As Beiras" - 18 de Maio de 2018