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Poluição vs. Covid-19

A NASA e a Agência Espacial Europeia divulgaram imagens de satélite da poluição atmosférica na China durante os meses de janeiro e de fevereiro. As imagens incidiram sobre a concentração do dióxido de azoto (NO2), um gás emitido pela queima de combustíveis fósseis a alta temperatura, especialmente por veículos automóveis e pela indústria, e que é prejudicial para a saúde humana e para os ecossistemas terrestres. 

O dióxido de azoto em excesso na atmosfera pode causar problemas cardíacos e respiratórios, principalmente nos grupos mais vulneráveis da população, como idosos e pessoas debilitadas por doenças crónicas, tal como o Covid-19. A grande curiosidade desta sequência de imagens foi a redução drástica da poluição sobre a China, após a eclosão do vírus Covid-19 e a diminuição das atividades produtivas resultantes das medidas de restrição de movimento para a contenção do vírus. Nalgumas das regiões mais poluídas, a concentração de NO2 na troposfera diminuiu em fevereiro para cerca de um terço do valor de janeiro.

Outra conclusão importante destas imagens de satélite é a capacidade da atividade humana para mudar a concentração da atmosfera com uma rapidez à escala de semanas ou de meses. Ao contrário da ideia que muitos negacionistas das alterações climáticas tentam transmitir, a atmosfera não é um poço sem fundo com capacidade suficiente para diluir todos os gases que enviamos para a atmosfera. Pior, no caso de um dos principais gases de efeito de estufa, o dióxido de carbono, o seu tempo médio de permanência na atmosfera é de cerca de 200 anos, ou seja largamente superior ao tempo de permanência do dióxido de azoto..

Cerca de 90% da massa nossa atmosfera está concentrada até à altitude de 16 km, daí para cima a atmosfera é progressivamente mais rarefeita. Estes 16 km são uma fina casca comparada com os 12742 km de diâmetro do planeta Terra. Os astronautas da Estação Espacial Internacional alertam frequentemente para a fragilidade desta fina camada de ar, visível do espaço na fase da órbita de ocultação do Sol pela Terra. É este delicado invólucro de ar que nos permite viver. Se não tratarmos bem dele as consequências poderão ser bem mais dramáticas do que as do Covid-19.

Publicado em LUX24 – 2 de março de 2020