Circula por aí uma mania segundo a qual não se pode criticar ou apontar os defeitos da cidade ou do concelho e maior é o pecado se o malvado crítico não é do sítio. Ora, numa cidade que vive em grande medida do turismo, que depende dos de fora, de conimbricenses, de beirões, de espanhóis, é justamente importante ouvir a opinião dos outros, dos de fora ou dos que passaram muito tempo fora.
É sabido que o seu olhar não está viciado pelos hábitos do quotidiano e muitas das qualidades e dos defeitos que escapam ao habitante local saltam à vista ao turista ou àquele de regresso à terra depois de longa ausência.
Relembro o que escreveu Gonçalo Cadilhe, um filho querido de terra que passa muito tempo fora do país: “vivo num lugar que nem é extraordinariamente bonito nem sequer se preocupa em cuidar da sua frágil beleza natural. A Figueira da Foz é uma cidade inchada pela avidez. Constrói-se, descaracteriza-se, derrama-se cimento, mas a população não aumenta. A cidade apenas incha (“Expresso”, 28 de junho de 2009 )”.
Foi há quatro anos, mas a única coisa que mudou desde então é que a cidade parou de inchar porque deixou de haver dinheiro. A cidade continua inchada. Estas opiniões podem doer muito ao mais distraído figueirense, mas valem ouro, se quisermos realmente projetar uma cidade mais interessante e atrativa para turistas. Se alinharmos pelo negacionismo, poderemos passar o tempo a dizer coisas fantásticas de nós próprios, mas arriscamo-nos a fazê-lo sozinhos.
As Beiras, 6 de Junho de 2013