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O Movimento 8%

Com cerca de cinco meses de atraso e dez meses depois da data de encerramento das candidaturas, foram divulgados os resultados do Concurso de Estímulo ao Emprego Científico (CEEC). Seguir-se-á o período para apresentação de recurso e de reavaliação de candidaturas. Com sorte, os investigadores contemplados com um contrato poderão começar a trabalhar cerca de um ano e meio depois de terem submetido as candidaturas. Até lá, muitos deles perderam contratos ou bolsas a termo e ficarão meses sem receber. É uma aberração. Uma aberração que este ministro acha normal.

Dos 3631 candidatos, foram selecionados apenas 300 (8,2%). É esta a conceção de pleno emprego dos doutorados tão proclamado pelo ministro Manuel Heitor. Mais curioso, é este concurso voltar a deixar de fora Irene Pimentel, Prémio Pessoa que já tinha ficado de fora no concurso de 2018 juntamente com Maria Manuel Mota, também ela Prémio Pessoa. Concluímos que a política científica deste governo dispensa os melhores cientistas, coloca-os a jeito para emigrar para os países em que se investe 3% do PIB na ciência, conforme definido pela União Europeia. Mas não se espere que Manuel Heitor se comove com este cenário, para o ministro isto é naturalíssimo. 

Na sequência dos resultados do CEEC surgiu, na Universidade do Minho, o Movimento 8% (referente aos 8,2% de aprovação do CEEC) composto por investigadores portugueses para denunciar a precariedade do emprego científico nacional. O esvaziamento da carreira de investigador no tecido científico nacional e a inexistência de aumentos, de progressões de carreira, de salários correspondentes à experiência e ao mérito dos investigadores são outras aspirações que vão para além da mera questão dos resultados do CEEC. 

Estes investigadores são ainda penalizados pela diminuição brutal de recursos, de materiais, de aparelhos e de instalações resultantes da não abertura de concursos de projetos científicos nacionais. Na última legislatura foi aberto apenas um concurso. Apenas um concurso nacional de projeto por cada 4 anos é sinónimo de estrangulamento do sistema científico português. Mas Manuel Heitor dorme tranquilo, a cada aparição pública mostra um sereno, descansado, está tudo bem, uma autêntica maravilha…

Publicado em LUX24 - 16 de dezembro de 2019