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Maus hábitos instalados vs. geringonças locais

Antes da Geringonça PS-BE-CDU, os acordos de governo com base parlamentar não eram novidade noutros países, nem ao nível local em inúmeros concelhos e freguesias deste país. A novidade é que depois do estabelecimento da Geringonça passou a haver maior sensibilidade e inclusivamente maior abertura para o estabelecimento de executivos e acordos de governação local compreendendo diferentes formações políticas. 

Mas o exemplo não se circunscreve apenas ao universo da política. Em todo o tipo de associações e entidades onde há órgãos eleitos, a mensagem vai passando. Há maior consciência de que a participação de várias forças e de vários atores num processo governativo de uma associação ou de uma autarquia reforça o controlo e a supervisão das decisões. O caso da Raríssimas é um bom exemplo dessa consciência do poder de supervisão plural por parte dos denunciantes. 

Nas autarquias, as soluções plurais de governação apresentam um potencial dissuasor dos maus hábitos instalados que incomoda os representantes do pior do centrão. Habituados a governar sozinhos ou em alternância, estes distribuíam favores, criavam redes de dependência e associações onde cabiam familiares, amigos e peões do partido. Esta foi uma das razões pelas quais o Bloco da Figueira da Foz se lançou no desafio de integrar os executivos das freguesias da Marinha das Ondas e de Buarcos e São Julião. 

Numa cidade por onde passaram assaz recentemente Paulo Pereira Coelho (envolvido nos processos judiciais do Galante e da Tecnoforma), Aprígio Santos (com 130 milhões de dívida na Parvalorem) e António Calvete (envolvido em vários processos do grupo GPS), há um restabelecimento da confiança democrática e da transparência das instituições a desenvolver. Certamente, não teremos capacidade para resolver neste mandato todos os problemas de transparência e de democracia local pendentes, mas a partir de agora a música vai ser outra.