No Congresso Internacional do Medo, de Carlos Drummond de Andrade, já está muito dito: “provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos, cantaremos o medo, que esteriliza os abraços”.
O extremismo de direita está a tomar conta da União Europeia e a questão é de como evitá-lo. Em parte, a extrema-direita foi alimentada pelo medo e pelas desigualdades, pela descrença na política e pelo eleitoralismo acrítico das principais forças políticas europeias, mas também nos países mais igualitários da Europa foi crescendo. Não sendo recente, como é que a extrema-direita organizada voltou a ressurgir no final do século passado e começou perigosamente a alastrar no início deste século? Em 1984, a Frente Nacional conseguia, em França, 11% dos votos e hoje disputa ser a primeira força política. Entretanto, já perdemos a conta aos governos europeus dominados ou influenciados pela extrema-direita: Hungria, Polónia, República Checa, Itália, Áustria, Bélgica, França, Alemanha, Suécia, Holanda… Na economia, se na França há um programa orientado para uma redefinição da auto-suficiência, na Áustria a linha é muito semelhante à da direita liberal mais convencional. Une-os as posições sobre migrações e as questões identitárias. O outro - o migrante, o refugiado, o homossexual, o não cristão, o não branco - justifica uma base identitária comum por via da exclusão.
Derrotar a extrema-direita requer novas narrativas de identidade colectiva que abarquem o pluralismo. Novas políticas que reintroduzam os direitos sociais onde a austeridade cavou mais fundo e a cultura humanista apoiada em colectivos não amedrontados. Reconquistar a empatia, a capacidade de nos identificarmos uns com os outros. Há mais mundo para além do medo. Essa é a nossa promessa de futuro.
Publicado no “Diário de Notícias” - 29 de dezembro de 2018