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A Europa 100 anos depois do Armistício

Escrevo estas linhas em Sydney, no dia em que se celebra o centenário do Armistício de Compiègne que selou a paz entre as potências beligerantes da I Guerra Mundial.

Nos antípodas das trincheiras de Verdun, o Armistício e a participação dos soldados australianos são recordados em vários locais da cidade para quem tivesse dúvidas que a guerra foi mesmo mundial.

Jovens na flor da idade deram meia volta ao mundo para morrer na sangrenta Batalha de Gallipoli na Turquia ou em trincheiras lamacentas infestadas de ratazanas no norte da França. Morreram cerca de 60 mil australianos e 160 mil foram feridos, mais de metade do contingente enviado, uma loucura!

Foi a Europa dos nacionalismos, dos egoísmos e das famílias imperiais militaristas – o Imperador Russo, o Kaiser Alemão e o Rei de Inglaterra eram todos primos – que esteve na origem desta guerra. Os impérios coloniais das potencias envolvidas encarregaram de alastrar a guerra aos restantes continentes.

100 anos depois do Armistício parece que Salvini, Le Pen, Bolsonaro, Trump ou Putin não leram os livros de história. Ou pior, se calhar leram e gostaram.

Somos uma sociedade global desde há várias décadas. Já nos anos 60, os agricultores das regiões mais isoladas do nosso país aplicavam nas suas culturas o nitrato do Chile, importado do outro lado do mundo.

Inventar no século XXI narrativas nacionalistas como se pudéssemos viver isolados uns dos outros cada povo fechado no seu próprio país, é correr o risco de criar um ambiente propício a novos conflitos, mas desta vez com armas capazes de destruir o mundo várias vezes.

Se a Europa não quiser voltar a esses tempos sombrios, as forças mais progressistas precisam de se reunir e trabalhar muito mais para apostar em projetos comuns que sirvam os cidadãos europeus e que lhes devolvam a dignidade.

Precisamos sobretudo que a abundante riqueza que existe na Europa seja desbloqueada dos mercados financeiros e seja colocada ao serviço dos cidadãos e do bem-estar comum.

As eleições europeias que decorrerão no próximo ano poderão ser um primeiro passo para mudar o rumo da Europa.

Publicado em LUX24 - 12 de novembro de 2018