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Clima: do Negacionismo a Trump

O ano 2017 foi o quinto mais quente desde que se regista a temperatura global. O mais quente foi o ano de 2015, seguido de 2013, de 2010 e de 2004 (link is external). Durante os 10 anos precedentes, 7 destes registaram temperaturas médias globais que os colocam no top ten dos anos mais quentes. O mês de dezembro de 2017 foi o 396.º mês consecutivo cuja temperatura média foi superior à média de temperaturas registadas durante o século XX. Obviamente, a temperatura global está sempre sujeita a oscilações à escala anual. A este período de acentuado aquecimento, poderá seguir-se um período de temperaturas globais mais baixas. No entanto, à escala de décadas, a tendência da evolução da temperatura global não engana. Nas últimas quatro décadas registou-se um período de acentuada subida da temperatura média global.

Durante anos assistimos a discursos em que se negava o aquecimento global pelas mais variadas razões. Em 2008, João Corte-Real, professor catedrático da Universidade de Évora acusava os modelos de simulação do clima de estarem a “ser forçados para aquecer (link is external)”. Na mesma altura, Delgado Domingos, professor catedrático do IST, assegurava que a temperatura não subia desde 1998 (link is external) e que os cientistas não conseguiam explicar a descida de temperatura da Terra... Outros produziam discursos mais enviesados pela fé no ultra-liberalismo. Em 2014, Alexandre Homem Cristo garantia no Observador que “o aquecimento global estagnou (link is external)” que se tratava de “uma derrota política da corrente ideológica que usou a ciência para legitimar o seu radicalismo contra o capitalismo”. Ainda em 2014, Henrique Raposo ia mais longe e afirmava no Expresso que o “aquecimento global está parado desde 2000 (link is external)”. O deputado do PCP Miguel Tiago, ilustrando o desnorte da CDU sobre questões ambientais, apoiava no Avante o discurso negacionista (link is external).

Hoje, este tipo de discursos são cada vez mais raros, o clima fala por si e as ciências climáticas vão reforçando os níveis de certeza dos seus resultados. Poderíamos voltar a ter esperança de enveredar por políticas que impedissem a temperatura média do planeta de ultrapassar os 2 graus acima da média de temperaturas do século XX, fasquia para a qual o risco de irreversibilidade climática aumenta consideravelmente. Mas eis que a Casa Branca é liderada por um irresponsável que recupera velhas retóricas negacionistas. Mas, o pior é que das retóricas vazias evoluímos para um perigo real com consequências nefastas para variadíssimas regiões do mundo. Em 2018, a comunidade científica e as principais organizações internacionais têm a obrigação de isolar e boicotar as políticas poluentes de Trump. É o mínimo.