Share |

Barroso e o desígnio do diesel

Durão Barroso foi um dos principais responsáveis pela aposta europeia na tecnologia diesel, pela multiplicação de viaturas particulares a diesel e pelos seus efeitos nefastos, quer económicos, quer ambientais.

Durante os dois mandatos de Barroso como Presidente da Comissão, a tecnologia diesel europeia foi eleita como uma das tecnologias prioritárias a desenvolver e a exportar massivamente para o resto do mundo.

Poderia ter apostado no software de utilização livre Linux ou nos telefones móveis, quando esta tecnologia era liderada pela Nokia ou pela Ericsson.

Poderia, ainda, ter apostado no investimento no desenvolvimento científico e tecnológico nas universidades e empresas europeias, como fizeram Bill Clinton e Al Gore, nos EUA, com resultados conhecidos (Google, Facebook, Youtube, etc.).

Em vez disso, Barroso apostou na estratégia comercial da Volkswagen e de outras marcas alemãs, sob o pretexto do acordo de redução do dióxido de carbono assinado com a Indústria Automóvel Europeia, em 1998.

Segundo a Comissão Barroso, a emissão de dióxido de carbono seria reduzida pela adoção dos motores diesel em alternativa aos motores a gasolina.

Na teoria, as contas pareciam bater certas, mas na prática essas contas escondiam uma estratégia mais lucrativa de venda de carros com motor a diesel e uma fraude na contabilização das emissões, que seria desvendada mais tarde.

Desde o final dos anos 90, marcas como a Volkswagen adotaram uma estratégia comercial de fabrico de veículos com motores diesel para particulares, aproveitando o preço subvencionado do diesel – inicialmente, apenas para viaturas de trabalho.

Na verdade, o diesel é mais caro de refinar do que a gasolina. Assim, a marca poderia vender motores maiores, mais complexos e mais caros para que as prestações dessas viaturas a diesel se aproximassem das movidas a gasolina.

Com mais componentes e com mais filtros antipoluição, a probabilidade de avaria aumenta e a margem de lucro da marca aumenta ainda mais. A pressão era colocada sobre o cliente que deveria calcular quantos quilómetros teria que percorrer para compensar a compra da viatura a diesel.

Contas frequentemente irrealistas, visto que raramente se contava a elevada despesa em filtros e despesa das revisões mais caras do motor diesel na oficina.

Os que fizeram os tais quilómetros para compensar a compra do motor a diesel sempre foram uma minoria e quem ganhou com a diferença foram os construtores automóveis.

Sabíamos, desde os anos 90, que o diesel era muito poluente, que o argumento de emissões de CO2 mais reduzidas em relação à gasolina eram demagógicos, mas a verdade é que a aposta no diesel continuou até as evidências da impostura serem evidentes.

Hoje, a Europa está a retroceder no diesel, mas até lá Barroso e outros responsáveis políticos enganaram os cidadãos. Pior, enganaram os cidadãos aos quais nunca ofereceram uma alternativa em transportes públicos.

Sim, Durão Barroso também é responsável pela ira dos coletes amarelos.

Publicado no LUX24 - 3 de dezembro de 2018